A difícil imposição de limites

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Por Tania Maria Pellin
Tania Maria Pellin. Graduada em Pedagogia pela Faculdades Integradas de Naviraí –
FINAV, em 1996, Naviraí/MS. Especialista em Psicopedagogia pelo Centro
Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN, em 2007, Dourados/MS. Atua como
professora na Fundação Lowtons de Educação e Cultura – FUNLEC/ Bonito/MS.

Retornando rapidamente a minha infância, lembro-me do semblante do meu querido pai, ele com seu jeito simples, austero e meigo, sabia impor limites. Bastava um olhar para que eu soubesse naquele exato momento qual era a sua opinião sobre o meu comportamento, ou algo que tivesse feito que não estivesse de acordo com as regras da casa.

Carinhoso, brincalhão, ele sempre foi um homem de poucas palavras, integro em suas ações.

Creio que as influencias que ele recebeu em sua formação o conduziram a ser assim. Para mim, um homem único, influenciado por uma educação rígida, filho de imigrantes italianos, onde as vontades na maioria das vezes eram reprimidas, viveu um período onde desejos e opiniões eram ditadas pelos anos de chumbo.

Na década de 1970, as influências através da mídia determinavam costumes a serem seguidos, sem, contudo, impedir modismos ou movimentos de contestação, como as passeatas de 1968, Brasil e França, Movimento pelas lutas dos direitos civis nos EUA, o movimento hippie e feminista, expressavam relativa rebeldia contra os limites impostos pela sociedade, igreja e governos.

Cada momento é único na vida de determinada geração.

O nosso momento é este, preocupação com o outro.

Atualmente, percebemos como nossas crianças se comportam diante de uma tela de celular. Ficam obcecadas por jogos, vídeos e esquecem o carrinho, a boneca, a bola. Uma criança precisa viver intensamente cada etapa do seu desenvolvimento. Crianças do início do século XXI estão pulando esta fase, que considero de grande importância para o desenvolvimento infantil.

Mas o que tudo isso tem com impor limites? Simples, se fizermos uma análise rápida na nossa trajetória de vida, e refletirmos como era o atuar da mídia a dez anos atrás perceberíamos que a influência sobre a vida dos adolescentes da época os afetava menos que nos dias atuais.

Hoje de maneira espantosa, vivenciamos, adolescentes carentes de afeto, da figura paterna ou materna os impondo limites. Estabelecendo regras. É comum vermos nossas crianças como adultos em miniatura. Na baixa Idade Média as crianças eram consideradas adulto em miniatura, criança adulto, a infância a elas era negada, “ O sentimento da infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência não existia. Por essa razão, assim que a criança tinha condições de viver sem a solicitude constante de sua mãe ou de sua ama, ela ingressava na sociedade dos adultos e não se distinguia mais destes “ (ARIÉS, 1981, p. 99).

Infelizmente, nem todos tiveram uma educação baseada na imposição de limites, conforme já descrito como experiência pessoal.

Na qualidade de psicopedagoga, sei que a criança precisa ouvir um “não”, ou “desta vez você passou dos limites”, ela precisa refletir nas consequências de seus atos para assim crescer, tornando-se mais resistente ao sentimento de frustação.

Os pais estão se tornando omissos no aspecto educar, orientar. Muitas vezes por estarem ocupados demais com a carreira profissional, com os afazeres do dia a dia, com a vaidade, e, claro tantas outras preocupações corriqueiras, e acabam para deixar para depois a principal missão que tem como progenitores. A educação dos filhos é intransferível. Como pais, é imprudente delegar a outros algo que compete a família, ao pai/mãe.

Os filhos necessitam da atenção paterna, materna, do compromisso, da orientação, da instrução para os diferentes obstáculos e situações que a vida apresentar. Esta preparação eficiente cabe aos pais.

Retornando ao tema central, “impor limites”, como fazer isso nos dias atuais? Como impor algo que muitas vezes não possuímos? Como orientar determinados setores da vida de alguém se não adquirimos maturidade suficiente para ser um exemplo?

Nossa sociedade está repleta de adultos que não desenvolveram sua idade emocional por não saberem ouvir um simples não como resposta. Facilmente se deprimem e fogem de seus compromissos, sempre que estes oferecem ameaças, por não saberem como lidar com os mesmos. Para Augusto Cury, os pais devem cruzar seus mundos com o dos filhos, criar uma intimidade real, uma empatia verdadeira A família não pode só criticar comportamentos, apontar falhas. A emoção deve ser transmitida na relação. Os pais devem ser os melhores brinquedos dos seus filhos. A nutrição emocional é importante mesmo que não se tenha tempo, o tempo precisa ser qualitativo.

Então, precisamos nos reavaliar, rever nossos conceitos, será que estamos agindo de maneira correta? Temos dedicado um tempo aos nossos filhos? Ou temos um pensamento “careta”, de que brincar é perder tempo?

Nossos filhos têm sentimentos, desejos e principalmente sonhos. Precisamos voltar a pegar a peteca, a bola, entre tantos outros, e dedicar um tempo diário a educação dos mesmos. Precisamos deixar a cobrança e dar lugar a confiança, a amizade entre pais e filhos, o elo que foi quebrado pela correria diária precisa ser unido novamente.

Os momentos ficarão para sempre na memória dos nossos filhos, recordo dos momentos de minha infância, onde brinquei com meu pai, jogávamos queimada, apostávamos corrida na volta da igreja para casa. Ele sabia educar e também incentivar. Tantas noites frias no Sul do país esperei pelo seu retorno do trabalho para me ajudar com os deveres escolares. Lá estava ele, cansado, com fome, mas sempre tinha um tempo para me auxiliar, isto significa cruzar os mundos com o dos filhos

Precisamos sim, com urgência sermos pais presentes na vida dos nossos filhos.

E se assim o fizermos saberemos como agir diante as dificuldades que se apresentarem, teremos a confiança, a amizade a nosso favor e saberemos como orientar aqueles a quem nos foi confiada a educação, e aplicar serenamente os ensinamentos dos Provérbios, “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele, (Provérbios 22:6).

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